Entre o Ter e o Ser: A Armadilha da Felicidade Coisificada.

Psicólogo Valdir Pontes Leal de Carvalho

10/30/20242 min read

Na sociedade atual, a felicidade parece ter se transformado em mais um item que precisamos conquistar, exibir e, por fim, consumir. Byung-Chul Han, filósofo sul-coreano, reflete sobre o que ele chama de “sociedade do desempenho,” onde até mesmo a felicidade se converte em um produto. Para muitos, a felicidade é medida através de marcos de sucesso, experiências acumuladas e imagens perfeitas compartilhadas. Mas será que conseguimos encontrar uma felicidade autêntica, que vá além do consumo e da exibição?

A Positividade Tóxica e o Imperativo de Ser Feliz

A busca pela felicidade, que antes era um ideal individual, parece ter se tornado uma obrigação coletiva. Somos incentivados a ser felizes o tempo todo e a compartilhar essa felicidade para que ela seja, de certa forma, validada. O fracasso, a dúvida e o cansaço são quase tabu, vistos como desvios num caminho que deveria ser linear e ascendente. Essa "positividade tóxica" cria um imperativo de felicidade contínua e, ao mesmo tempo, superficial.

Quando a felicidade se torna um produto, ela perde seu valor real. Ao viver em função de um ideal externo, deixamos de explorar o que nos faz felizes de verdade. Em vez disso, consumimos rapidamente um tipo de felicidade que logo perde o brilho e precisa ser substituída por algo mais, gerando um ciclo de insatisfação e busca contínua.

A Alienação e a Felicidade como Consumo

Ao tratarmos a felicidade como algo que se pode consumir ou adquirir, alienamo-nos de nós mesmos. Cada vez mais, o ideal de ser feliz está vinculado a experiências externas e materializadas. Ao invés de uma vivência pessoal, a felicidade torna-se uma experiência performática, a ser exibida e confirmada pelos outros. Essa desconexão gera uma lacuna que nem sempre é reconhecida, mas que traz um constante sentimento de vazio ou inadequação.

Para Han, a sociedade contemporânea cria essa pressão pela produtividade pessoal em todas as áreas da vida, o que nos esgota e nos impede de parar e questionar o que realmente importa. Ao percebermos que a felicidade não é algo a ser comprado ou conquistado, abrimos espaço para experiências mais autênticas e sustentáveis.

Resgatando o Sentido de uma Felicidade Genuína

Ao refletirmos sobre a felicidade na sociedade de desempenho, é essencial resgatar uma visão mais profunda e livre de imposições. Não precisamos acumular experiências para nos sentirmos felizes, nem nos preocupar com o reconhecimento constante dos outros. A felicidade não é algo que precisa ser exibido; ela é, antes de tudo, um estado interno, muitas vezes invisível e silencioso.

Para encontrar uma felicidade genuína, é importante se desconectar da necessidade de validação externa e buscar o que verdadeiramente ressoa internamente. Em um mundo onde a felicidade é tratada como mais um produto, resgatar uma vivência mais autêntica e individual pode ser o primeiro passo para viver plenamente – de forma menos intensa, talvez, mas mais real e profunda.